Um profeta a saltar-nos dentro da barriga. Por Tiago de Oliveira Cavaco.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Do sexto capítulo

Para que os meus amigos não digam que sou bruto deixem-me partilhar uma positiva perplexidade com o livro: na ansiedade de parecer à frente, modernaço, heterodoxo, William P. Young faz um serviço inesperado à ortodoxia cristã que é defender a Trindade. Isso não o iliba de se seduzir por frases que procuram efeito, clichés desmontados por clichés ainda piores (pensava que esta história do sexo de Deus tinha morrido na década de 70) e momentos de refinada piroseira (por cada verdade teológica que aprende o protagonista, Deus, em forma de matrona afro-americana, dá-lhe um abraço e limpa-lhe as lágrimas do rosto).
Acho que todos devem ler este livro. Há umas quantas frases que valem a pena. Em todo o resto é uma lição de como a falta de estilo literário e a pressa em levar a avó para a discoteca subjugam a literatura evangélica aos fogachos da época.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Prometo não monopolizar-te mais o blogue, Tiago, mas há observações que não me abstenho de fazer.

    Primeiro, quero alertar para o facto que, se há intenção de estabelecer um paralelo real com a teologia ortodoxa no respeitante à trindade na narrativa de Young, tal falha e não pouco. O autor não subscreve à formulação do Credo, que diz que 'o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; e não são três, mas um só Deus em três pessoas', mas antes afirma que o Pai é o Filho e o Filho o Espírito Santo, etc - não distinguindo a diversidade na unidade triuna. Esta é a heresia histórica do modalismo.

    Depois, se me lembro, ele descreve que o Pai - a mulher afro-americana - tem cicatrizes no lugar das mãos, como se da crucifixão - alegando que o Pai sofreu com o Filho, negando assim a imutabilidade de Deus e a separação necessária de Cristo na expiação. Esta é a heresia histórica do patripassionismo.

    Como demonstrado ainda nas entrevistas radiofónicas que abaixo linko, sabemos que, tal como é descrito na narrativa, Young afirma que o pecado é a pena de si mesmo, não necessitando pagamento. Assim, nega a expiação substituitória de Cristo; isto é, que Jesus sofreu a pena dos pecados do seu povo em si mesmo, para a justiça do Pai. Young também sugere universalismo ao afirmar que todos os homens já estão perdoados.

    Termino dizendo que nem é o Deus Pai um velho de barbas anglo-saxão nem é uma mulher afro-americana; mas que se Deus se quis identificar no género masculino e num carácter patriarcal, ainda que o transcenda, é assim que deve ser descrito, por reverência da Palavra.

    Deus não deve ser vitimado da culpa do homem branco. E que se minorias houve cuja integridade foi abusadas no passado, a maior minoria é a da divindade - uma só. Deixem-no, pois, falar por si e mostrar-se como quiser.

    A ouvir com atenção:

    http://rock-life.com/files/shakcomp.mp3
    http://www.youtube.com/watch?v=4SqH6WT9hhk

    §

    SOLI DEO GLORIA

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  3. Nuno,
    de momento resumo-me ao livro. Obra literária. Claro que são em grande medida as intenções paralelas do autor que arruínam o escrito (podia ser uma bela obra herética mas nem a isso aspira). Sigo também essas intenções mas as crenças pessoais de Young não me preocupam neste momento.
    De qualquer modo o teu comentário é oportuno. Para quem lê e não se apercebe o segredo é ler também e comunicar.
    Abraço.

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  4. Eu sei. Preocupo-me apenas no efeito secundário que, para alguns leitores, se pode traduzir em tentar estabelecer paralelos teológicos ou expandir-se em concepções libertárias da imagem de Deus. Como escutarão nas entrevistas, Young nunca responde com objectividade quando confrontado com isto. Sobre a obra literária fictícia - se é tudo o que é - nada a declarar.

    Boas férias.

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