O Nuno levanta uma questão pertinente acerca do valor cultural do apelo no cristianismo contemporâneo (Século XX, sobretudo). Valeria a pena reflectirmos mais sobre as limitações da fórmula aceitar Cristo que parece ainda inquestionável entre evangélicos (na Escritura o mais pragmático que encontramos parece ser confessar Cristo, algo substancialmente diferente). No entanto discordo do Nuno quando classifica de "universalismo aterrador" a deriva de Billy Graham. A maleabilidade teológica e apologética dos protestantes evangélicos resulta para o bem e para o mal. É nessa linha de risco de actualizar sociologicamente o Evangelho ao minuto que permitiu, por exemplo, que o pentecostalismo se tornasse o movimento religioso que mais cresceu nos últimos 100 anos. O eventual excesso de individualismo da experiência protestante tornou-se amigo de um tempo onde cada homem se fecha sobre si próprio.
Os erros apontados à leveza com que se liga acorrer ao apelo de uma pregação pública à salvação imediata da alma revelam também algum excesso de certeza moderna sobre como se opera a salvação. Não se combate o orgulho de uma fórmula com outra (presente no documentário do YouTube que o Nuno recomenda). É por isso que sou cauteloso com afirmações que descrevem que "a maior heresia da cristandade evangélica foi, de facto, a conversão por apelo e a salvação por decisão humana". E aceitem isto de um calvinista desconfiado. Se a linguagem é um terreno escorregadio cortar a língua poderá ser uma resposta muito mais ensurdecedora. A questão do Nuno é importante. Mas o que sobressai do video recomendado é uma mania persistente entre protestantes de transparecer mais prazer a apontar heresias alheias que a pregar o Evangelho em consciência própria (as imagens, a música usada, o tom paternalista, os planos finais do Inferno revelam um excruciante mau gosto - ter más maneiras também é blasfemar).
Continuo por isso, e apesar dos amaciamentos recentes, a ter uma enorme admiração por Billy Graham. É para pregar o Evangelho ou não é para pregar o Evangelho?
Um profeta a saltar-nos dentro da barriga. Por Tiago de Oliveira Cavaco.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Por zelo da objectividade não vou discutir impressões subjectivas como o trabalho de edição no vídeo sugeridos, pelo que, por mim, me parece meramente narrativo, deixando que os patenteadores desta fórmula aritmética de conversão apresentem a sua própria refutação por meio das suas palavras.
ResponderEliminarCharles Finney foi um pelagiano óbvio; Bill Sunday queria convertidos a todo o custo e depressa; e Billy Graham sempre mediu o sucesso do evangelismo pela quantidade de 'decisões positivas'. Isto é contrário às Escrituras, onde é ordenado ao pregador:
'Conjuro-te diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério' (II Timóteo 4:1-5).
Paulo avisa Timóteo que o Evangelho tem épocas de maior e menor aceitação, mas que o impacto que este tem nos que o escutam não dita se a obediência a Mateus 28 foi bem ou mal cumprida. A satisfação em vista não é do irregenerado que ouve, mas do Deus que o regenera ou o endurece. A competência do pregador é, pois, medida pela fidelidade à Palavra de Deus ministada.
O apelo/convite como é praticado nestes dias é, na sua maioria, uma blasfémia contra o Espírito Santo. Ninguém é salvo por uma 'decisão-individual-para-aceitar-Jesus-como-Senhor-e-Salvador', como atesta a Bíblia:
'... aos que crêem no Seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus' (João 1:12-13).
Ao invés, Jesus Cristo é que o aceita como pecador imperdoável, por meio da regeneração - uma obra que não vem sem arrependimento e dúvida sobre a salvação individual. E isto - ao contrário do que ouvi já 'evangelistas' afirmarem, não tomará apenas 5 minutos - mas toda uma vida de arrependimento e fé no Senhor, certo da eleição de Deus, mas sempre em exame sobre quão mais ser santo e agradável ao Senhor.
Explicando melhor sobre a minha acusação de 'universalismo aterrador' por parte de Graham, reporto para as suas intervenções mediáticas (visto que já não escreve), entre as quais:
"I fully adhere to the fundamental tenets of the Christian faith for myself... but as an American, I respect other paths to God."
Graham também não recusou a sugestão de Oprah de que homossexuais não-arrependidos seriam salvos, nem afirmou a exclusividade de Cristo em entrevista com Larry King - sendo este um anátema segundo o Credo de Niceia.
De interesse também será esta repreensão pública por parte do Dr John MacArthur, presente neste vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=mC2WPR7q4pU&feature=related
Termino por sublinhar que o Evangelho é-nos ordenado proclamar, e não impingir como um vendedor, seguindo técnicas de aliciamento ou retórica florida. Não interessa a elocução ou a competência vocal do pregador, pois as ovelhas reconhecem sempre a voz do Pastor, e O seguem. Ele predestina os fins, mas também os meios para a salvação.
Oremos por Billy Graham e para que o Senhor nos livre desta apostasia 'evangélica'.
§
Prompte et sincere,
SOLI DEO GLORIA
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarNuno,
ResponderEliminar(making a long story short) o problema é que não foi pelo zelo da objectividade que Cristo morreu por nós. E isto não é credo pós-moderno mas desencarceramento cristão do pagão jugo positivista.
Lê os diálogos entre Lutero e Erasmo e entenderás que, nesse sentido, o último até poderia ser considerado mais "bíblico".
Abraço.
My man, Guillul,
ResponderEliminarDentro do campo Reformado é óbvio que pendes mais para o kirkegaardismo seguido por Barth, que ali a fé com certo grau de irracionalidade, pois implica um impulso sem base para provas de sucesso. Eu pendo mais para os puritanos, Gordon Clark e Schaeffer, que criam, como penso ser o axioma do Evangelho que a fé é lógica, pois o Logos é a própria pessoa de Cristo (João 1). A filosofia positivista é, sim, um jugo paganista, mas que nada deve ao pensamento cristão, que, embora pressuposicional, é não-contraditório.
Lembro-te que nesse diálogo, o que Lutero queria dizer por 'Razão' e à qual denominava de 'a prostituta de Satanás' seria, hoje em dia, melhor traduzida por 'racionalização', no sentido psiquiátrico. O próprio Martinho reportou para a autoridade da 'Escritura' e da 'simples lógica' para responder por si em Worms.
Assim, a minha preocupação é a de defender a ortodoxia, pois em lado nenhum do Evangelho somos instados a sermos tolerantes com a apostasia; em vez, devemos 'repreender com toda a autoridade'.
A tolerância evangélica do séc. XX criou mais cisões no Corpo de Cristo que em todos os outros séculos anteriores, e - como sabemos - a vontade de Deus não é esquizofrénica; logo, urgimos por uma reforma que seja bíblica, e nos una de novo sob o vértice da Verdade que é o propósito do Senhor para o Seu povo.
§
Soli Deo Gloria
Nuno,
ResponderEliminartriste mérito teu que me fazes parecer liberal.
Se pendo mais para o Kierkegaard ou para o Barth, não sei. O que me parece é que tanto defendendo as Escrituras estás a defendê-las pouco de mais.
You know what I mean.
Abraço.
Penso que levaste demasiado a peito a invocação do Kierkegaard e o do Barth, mas apenas demonstrava que falamos baseados em escolas calvinistas que discordam no ponto da relação de Deus com a Razão quanto à Revelação. É a mera diferença entre calvinismo moderado e alto-calvinismo.
ResponderEliminarMas isto fi-lo em simples tom informativo, e queria instar-te à consideração da perspectiva logicista e pressuposicionalista. Esta não tenta provar a veracidade das Escrituras fora delas, mas pressupondo todas as suas afirmações como verdadeiras, desnecessitando comprovação pela inexcudabilidade com que o descrente já se encontra.
Mas quanto a Billy Graham, foi apenas por uma necessidade em construir uma resposta competente ao repreender alguém que é tido como o maior pregador do séc XX. Só por amor à Verdade de Cristo é que esta minha intervenção se justificaria.
§
Soli Deo Gloria
Extremamente ofendido por não ter sido avisado disto. Extremamente.
ResponderEliminarNuno,
ResponderEliminaracho melhor passares a indicares as fontes das tuas citações. Essa coisa de colocares aqui frases que o Billy Graham disse, sem se saber quando ou onde não é correcto.
Acho que estão aqui a misturar muita coisa.
Primeiro, são contra os apelos. Suponho que isso vem da vossa condição de calvinistas.
Mas daí a desancares o Billy Graham acho excessivo. Já leste por acaso a sua autobiografia? Foi ele quem inventou os apelos no fim dos cultos?
Ele pregou para milhares de pessoas em várias ocasiões, que por certo não foram para lá obrigadas. Foram lá para o ouvir por alguma razão.
Será que dos milhares de pessoas para quem ele pregou não houveram almas realmente salvas?
Sinceramente não encontro esses defeitos todos que vocês apontam ao Billy Graham. Ele deve ter muitos, é humano. Mas na minha opinião merece todo o respeito e admiração. É um figura incontornável do cristianismo do último século e também dos Estados Unidos da América.
Não és tu por certo com meia dúzia de comentários e frases feitas que vens aqui arruinar a reputação dele.
Cumprimentos.
Cavaleiro Andante,
ResponderEliminaras frases que o Nuno aponta ao Billy Graham existem e podem ser vistas no YouTube. Pesquisa um pouco (ou pede ao Nuno) que ainda ontem as ouvi pela 3ª ou 4ª vez. Falta-me agora o vagar para o fazer.
Não se é contra apelos e muito menos por condição calvinista. Podes não concordar com o Nuno mas dificilmente o podes acusar de não ser explítico nas suas perspectivas. A questão é o peso que se atribui ao apelo e o que se associa a ele. Volta a ler os seus comentários e entenderás melhor, creio.
Algumas das últimas intervenções do Billy Graham também me incomodam. Mas podemos admirar pessoas independentemente das nossas divergências. E é também um pouco disso que tenho estado a discutir com o Nuno.
Cumprimentos.
Caros irmãos,
ResponderEliminarTive o cuidado de citar referências de autoridade - como MacArthur e Paul Washer - deixando que estes mesmos expressassem o que expus: o apelo deve ser ponderado, sob o risco da heresia.
Pessoalmente, creio haver apelos que - se bem explicitados nas suas intenções - nada têm de desleal ou herege, podendo até ser um meio decisivo para a primeira abordagem do Evangelho, e do arrependimento e fé em Cristo. Contudo, a extrapolação e exploração excessiva deste processo, pode ser desrespeitoso com o Espírito Santo, que não necessita de pregações de tom publicitário, acompanhamento musical ou controlo de iluminação para mover o descrente a dirigir-se ao altar, e se declarado papalmente salvo apenas por haver repetido uma oração, cujas palavras pode nem compreender. Isto desonra o Evangelho, pois não demonstra reverência nem seriedade necessárias para com o milagre da regeneração. Além do mais, deparamo-nos com um sacramento não-bíblico (vindo do mesmo protestantismo que critica Roma quanto ao pedobaptismo que chama sacramentalista).
E não, Cavaleiro Andante, o calvinismo não se vê directamente relacionado com a questão. Até porque o modelo foi encetado por Charles Finney, um presbiteriano, e muitos calvinistas há que usam deste método. Também é de consideração a reverência que os arminianos pré-séc XX demonstravam pelo novo nascimento, não crendo que este devesse ser pressionado ou incutido - mas observado. Foi, pois, por altura dos primeiros avivamentos na América (sécs XVIII-XIX) que o apelo foi rotinado; é essa a origem.
§
Sola Gratia
Ainda sobre Graham - e correndo o risco de me hipercorrigir - já lhe chamei o maior evangelista do séc XX. Daí o meu zelo em opinar negativamente sobre ele, fundamentando talvez até demais os meus pareceres.
ResponderEliminarBill Graham foi muitas vezes incompreendido e mal-interpretado em certos episódios com as suas visitas à URSS em plena Guerra Fria, ou ao Papa em Roma; ou no escândalo de Watergate - entre outros comentários nos quais a opinião pública se escandalizou. Nisto se percebe a necessidade de amaciamento de discurso.
Mas certas tiradas omissas e politicamente correctas que parecem sugerir um inclusivismo latente , que cria suspeitas sobre a apostasia de Graham, para grande preocupação do meio evangélico.
Ok. Vou tentar procurar na net as ditas opiniões de Billy Graham com as quais obviamente não estou de acordo.
ResponderEliminarAinda em relação aos apelos, não creio que nas Igrejas Evangélicas em Portugal, seja uma prática muito habitual nos nosso dias.
Ou seja num culto regular não me parece que seja recorrente existirem apelos. Penso que isso se passa mais em eventos evangelísticos.
No caso do Billy Graham, não me parece que a questão do apelo fosse obrigatória ou necessáriamente exagerada. Os eventos que organizava era na sua maioria de cariz evangelístico, e nesse contexto o apelo no fim surge, penso eu como que um chamar de atenção para a consequência e urgência dos ouvintes em se voltarem para Deus.
Saudações.